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26/08/2022 - 11h29

Portos protagonizam 4 iniciativas para uso de hidrogênio verde no país

Fonte: Portos e Navios
 
Estudo da CNI – apontando que o aproveitamento energético do “combustível do futuro” figura como uma das alternativas mais eficazes para a descarbonização da economia mundial – coloca o Brasil com forte potencial para produzi-lo, tanto para uso interno quanto para exportação, porém, é necessário mais engajamento
 
As emissões de gases de efeito estufa, que têm como principal vilão o dióxido de carbono (CO2) com 74% dos GEEs – chegaram a altas taxas nos últimos tempos e hoje devem estar próximas de 50% acima dos níveis pré-industriais, demandando urgência por novas fontes de energia, como o hidrogênio verde (H2V), em substituição aos combustíveis fósseis (carvão mineral, gás natural e petróleo).
 
No cenário das iniciativas do chamado “combustível verde”, os protagonistas brasileiros em quatro iniciativas exclusivas são todos complexos portuários: duas do Porto de Pecém (CE), uma do Porto de Suape (PE) e outra do Porto do Açu (RJ). É o que apontou o estudo “Hidrogênio sustentável: perspectivas e potencial para a indústria brasileira” da Confederação Nacional da Indústria (CNI), divulgado há poucos dias.
 
Dados da WRI Brasil – instituto de pesquisa que faz parte do “World Resources Institute” (WRI), instituição global também de pesquisa, com atuação em mais de 50 países – indicaram que a maioria das emissões de CO2 (89%) vem do uso de combustíveis fósseis, especialmente, para geração de eletricidade e calor, consumo, fabricação e transporte.
 
Ainda apontou que o consumo de energia é de longe a maior fonte de emissões de GEEs por seres humanos, sendo responsável por 73% delas em todo o planeta. O setor de energia inclui transporte, eletricidade e geração de calor, edifícios, fabricação e construção, emissões fugitivas e outras queimas de combustíveis.
 
Em uma visão mais otimista quanto ao futuro, o estudo da CNI trouxe novos horizontes e boas perspectivas globais, ao apontar que o aproveitamento energético do hidrogênio verde figura como uma das alternativas mais eficazes para a descarbonização da economia mundial. Conforme a instituição, desde 2021 foram anunciados 131 novos projetos de larga escala em H2V, com investimentos previstos de aproximadamente US$ 500 bilhões, até 2030.
 
Somente em 2022, mais de 30 países já lançaram planos nacionais nessa área. No caso do Brasil, mesmo sendo bem incipiente, foi anunciado o Programa Nacional do Hidrogênio (PNH2) no ano passado, que preconiza o uso do hidrogênio como fonte energética no país, apontando-o como “catalisador dessa transformação”, se a geração da demanda e a disponibilidade de infraestrutura tiverem regras e fundamentos estáveis e previsíveis para gerarem competitividade.
 
“Novas aplicações do hidrogênio deverão servir a setores como aço, cimento, vidro, transporte marítimo e aviação, substituindo insumos fósseis. O hidrogênio também encontra espaço como combustível para veículos pesados e na armazenagem e geração de energia descentralizada, entre outros usos. O Brasil tem potencial para produzir hidrogênio tanto para uso interno quanto para exportação, devido à sua posição estratégica. A característica renovável da matriz energética brasileira é uma nítida vantagem competitiva do país, pois 70% do custo da produção do hidrogênio estão associados à eletricidade”, apontou o estudo da CNI.
 
Pilar da transição energética
 
Para a Confederação Nacional da Indústria, o hidrogênio é um dos pilares da transição energética na estratégia das indústrias para uma economia de baixo carbono, a partir de planos e ações nas áreas de eficiência energética, eólica offshore, recuperação energética, novas tecnologias de captura de carbono, e biocombustíveis.
 
De acordo com Davi Bomtempo, gerente-executivo de Meio Ambiente e Sustentabilidade da CNI, o Brasil tem grandes oportunidades e, consequentemente, pode ter muitas vantagens comparativas para produção desse combustível do futuro.
 
“É possível desenvolver uma nova cadeia, a partir de uma quantidade imensa de investimentos que deve receber. Ou seja, vamos gerar renda, empregos e maior arrecadação para as regiões, proporcionando um desenvolvimento sustentável regional e colocando nosso país como um dos grandes players dessa agenda de transição energética”, analisou.
 
Bomtempo salientou que o estudo da CNI identificou essas oportunidades de negócios, que incluem um mapeamento e algumas diretrizes para que o país possa desenvolver essa agenda em âmbito doméstico. “Precisamos trabalhar todo um arcabouço regulatório para pavimentar um caminho para que o empresário brasileiro desenvolva seu trabalho, desenvolva seu empreendimento de forma estruturada e fortalecida, com regras claras aqui, dentro do nosso país.”
 
Hubs portuários de inovação
 
Dentre as quatro iniciativas brasileiras em torno de projetos sobre uso de hidrogênio verde no país, duas delas envolvem o chamado “hub de hidrogênio verde” do Complexo Industrial e Portuário do Pecém (CIPP) – um “joint venture” formado pelo governo do Ceará e pelo Porto de Rotterdã. Os trabalhos estão em desenvolvimento em parceria com a Federação das Indústrias do Ceará (Fiec) e a Universidade Federal do Ceará (UFC), além de empresas multinacionais do setor de energia – Enegix Energy, Fortescue Future Industries, Qair Brasil, Transhydrogen Alliance e White Martins.
 
Composto por um conglomerado de 150 empresas de capital nacional e internacional, em operação ou implantação, atendendo a várias indústrias com potencial para o engajamento em projetos de hidrogênio, como a indústria de gases industriais, petroquímica (Refinaria Abreu e Lima – PQS, Companhia Petroquímica de Pernambuco, entre outras), de geração de energia elétrica (com duas unidades termelétricas), de alimentos e bebidas, de material de construção, metalmecânica, além do recente polo farmacêutico, o Complexo Industrial Portuário de Suape, em Pernambuco, assinou um Memorando de Entendimento (MoU) com a Qair Energia, em 2021.
 
O objetivo é executar, em conjunto, estudos de viabilidade técnica e econômica para a implantação de uma planta de hidrogênio verde. Intitulada “Planta de Hidrogênio Verde Pernambuco”, a iniciativa prevê a instalação de quatro conjuntos de eletrolisadores de água, em quatro fases de implantação, em áreas do Porto de Suape.
 
Já o Porto do Açu, localizado em São João da Barra (RJ), estruturou seu modelo de negócios dentro de hubs de inovações, que incluem o desenvolvimento de um hub de H2. A intenção é atrair empresas que queiram produzir e distribuir hidrogênio verde, indústrias de amônia verde e biorrefinaria ou indústrias de aço de baixo carbono, que possam usar H2 verde – seja como vetor de energia ou como matéria-prima do seu processo produtivo – ou ainda fabricantes de equipamentos que atuam na indústria de H2.
 
Potenciais consumidores
 
O estudo da Confederação Nacional da Indústria também listou as indústrias que estão mais à frente, como potenciais consumidores da aplicação do hidrogênio verde em suas estratégias de descarbonização, como os setores de refino e fertilizantes, que são potenciais consumidores de hidrogênio cinza (produzido com gás natural).
 
O documento também indicou quem, em curto e médio prazo (entre três e cinco anos), a produção de hidrogênio de baixo carbono, no Brasil, oferece oportunidades de negócios e descarbonização para setores industriais como fertilizantes, siderurgia, química, petroquímica e na produção de metanol:
 
Produção de amônia e fertilizantes verdes (curto prazo) – o preço do gás natural de origem brasileira é historicamente alto, o que faz com que a produção brasileira de fertilizantes não possa competir com produtos importados. A produção de amônia a partir de hidrogênio verde em localidades perto do agronegócio representa uma oportunidade de grande potencial. Já existe demanda para amônia verde no mercado internacional e esta é considerada um dos combustíveis marítimos alternativos mais promissores para reduzir as emissões de GEE na indústria naval.
 
Siderurgia (curto prazo) – o hidrogênio verde pode substituir o coque que é adicionado ao minério de ferro, onde reage para produzir ferro-esponja, com emissão de 1,73 toneladas de CO2 por tonelada de aço produzido. No caso do uso de hidrogênio verde, a reação não libera dióxido de carbono – o único subproduto é a água – e já existe demanda internacional para aço verde.
 
Produção de metanol para as indústrias química e petroquímica (médio prazo) – a grande vantagem de converter hidrogênio de baixo carbono em metanol é que o processo não exige o desenvolvimento de uma infraestrutura nova e extremamente cara e não comprovada, nem sofre as grandes dificuldades de segurança como com o uso direto de hidrogênio.
 
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