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24/08/2022 - 11h37

Greve em Felixstowe pode piorar congestionamento em portos da Europa

Fonte: Portos e Navios
 
Reflexos globais do movimento grevista europeu não devem, a princípio, trazer impactos para o Brasil. Relatório internacional aponta que os principais complexos portuários do mundo continuam sofrendo com atrasos no processamento de contêineres de importação, um cenário que deve perpetuar nos próximos meses
 
O cenário de congestionamento de contêineres em portos de toda a Europa tende a piorar, em especial após a greve de, pelo menos, oito dias dos trabalhadores do Porto de Felixstowe, no Reino Unido, que começou na segunda-feira (21). O movimento grevista de aproximadamente 1,9 mil profissionais – entre operadores de guindastes e máquinas, além de estivadores –, que exigem salários mais altos diante de uma inflação recorde de 10%, é uma consequência do fracasso nas negociações em torno de um acordo trabalhista com a autoridade portuária, que opera o local.
 
Considerado o mais importante complexo portuário da região, o Felixstowe movimenta mais de quatro milhões de contêineres por ano e sua importância econômica equivale a portos como o de Los Angeles e Long Beach, nos Estados Unidos, ou de Roterdã, principal centro comercial da União Europeia (UE).
 
De acordo com publicações de agências internacionais, representantes do sindicato Unite, que convocou a greve, declararam que a paralisação terá um forte impacto no porto. “Felixstowe é muito lucrativo. Os últimos números mostram que, em 2020, teve um lucro de 61 milhões de libras (US$ 72 milhões)”, disse a secretária-geral da Unite, Sharon Graham. “A empresa matriz CK Hutchison Holding é tão rica que, no mesmo ano, distribuiu 99 milhões de libras aos seus acionistas. Eles podem, portanto, dar aos trabalhadores de Felixstowe um aumento salarial adequado”, acrescentou.
 
O relatório internacional “Situação do mercado global de transporte de contêineres”, compilado pela Project44, plataforma global de visibilidade – em tempo real – da cadeia marítima de suprimentos, demonstra que a situação deve fazer com que as frotas de contêineres bloqueiem as viagens para Felixstowe, com transportadoras desviando suas cargas para portos europeus mais próximos, como Roterdã e Antuérpia, que já estão recebendo elevados volumes de importação de navios, que têm aportado em suas costas.
 
“Os portos europeus têm experimentado um aumento no tempo de permanência dos contêineres de exportação, devido ao aumento dos ‘blank sailings’ na rota comercial Ásia-Europa. Maiores ‘dwell times’ na exportação e mais ‘blank sailings’ também coincidem com um aumento nas rolagens de transbordo nos portos da UE (União Europeia). Além disso, questões trabalhistas nos portos da UE/Reino Unido e o aumento dos volumes restringiram ainda mais as cadeias de suprimentos da UE/Reino Unido em julho”, apontou o relatório.
 
Questionado pela Portos e Navios se a greve no Porto de Felixstowe poderia trazer prejuízos ou atrasos de navios que vêm de lá para o Brasil, José Roque, diretor executivo do Sindicato das Agências de Navegação Marítima do Estado de São Paulo (Sindamar), acredita que, em um primeiro momento, não deva afetar. “Os problemas logísticos da Europa, principalmente de congestionamento de contêineres, decorrem da China, ainda como efeito dos lockdowns relacionados à pandemia, no país asiático. Por enquanto, a greve no Porto de Felixstowe não traz impactos diretos para o Brasil, mas, por prudência, estamos aguardando e monitorando esse cenário”, disse ele.
 
Outros dados globais
 
Conforme o relatório da Project44, os principais portos do mundo continuam sofrendo com atrasos no processamento de contêineres de importação, um cenário que tende a continuar nos próximos meses, com o aquecimento das vendas no varejo e a manutenção de alguns gargalos logísticos.
 
Em resumo, o documento também apontou que o transporte global de contêineres cresceu 0,6% em junho, um desempenho maior sobre igual período de 2021 e 8% superior ao de junho de 2019; que os portos na costa leste dos EUA continuam enfrentando congestionamentos contínuos; e que os tempos de permanência (dwell times) de contêineres na costa oeste norte-americana também estão elevados, como decorrência das restrições ferroviárias.
 
O entrave relacionado às ferrovias dos EUA decorre do fato de as operadoras BNSF e Union Pacific estarem contando os contêineres, que transportam dos portos de Los Angeles e Long Beach, como tentativa de sanar os gargalos em seus terminais intermodais do meio-oeste do país. No entanto, segundo a Project44, isso vem criando congestionamentos nos terminais portuários, que já estão lotados de contêineres importados.
 
O relatório ainda destacou que os prazos de entrega de cargas no Transpacífico permaneceram baixos, em julho, enquanto outras rotas comerciais enfrentaram turbulências. Já os portos da China vêm conseguindo manter certa consistência em seus desempenhos.
 
‘Lead time’
 
Métrica que mede o tempo total para a carga chegar ao porto de descarga, desde o recebimento no porto de origem, o “lead time” é um dos indicadores críticos da “saúde” das principais rotas marítimas comerciais. “Os prazos de entrega no Transpacífico caíram 48% desde o início do ano. Graças à eliminação do atraso nos principais portos da Baía de San Pedro, os tempos de trânsito passaram de 43,7 dias para 22,6 dias em julho de 2022”, indicou a Project44.
 
O documento ainda apontou que, diante do fracasso das autoridades portuárias da União Europeia em suas tentativas de obterem um acordo com os trabalhadores portuários grevistas, outros portos – como Roterdã, Hamburgo e Bremerhaven – estão lutando com navios acomodados, levando à fila de navios em sua costa. Por essa razão, o “lead time” médio de carga, para a rota Transatlântica, subiu para 27 dias em julho, perto de seu recorde histórico de 29 dias contabiliza no início de 2022.
 
“As estatísticas de congestionamento, nesta época do ano, são um sinal claro de fissuras no ecossistema logístico, à medida que entramos na alta temporada de vendas”, comentou Adam Compain, vice-presidente sênior de Supply Chain Insights da Project44.
 
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